quarta-feira, 9 de julho de 2014

Ressaca do 7x1

Hoje deveria ter sido feriado nacional no Brasil. Tenho certeza de que este é o sentimento de quase toda uma nação neste 09 de Julho de 2014. Estamos de luto! E apesar de hoje ter sido um dia útil normal, nota-se claramente o semblante decepcionado em nós brasileiros pela maior derrota já vista no campeonato mundial. Ou então a inexpressividade e apatia na face de alguns que, sequer, conseguem explicar a eles mesmos o que aconteceu para que a única seleção pentacampeã do mundo, anfitriã do torneio, pudesse ter perdido um jogo com placar tão humilhante.

É um sentimento estranho. Uma perda lastimável! E tudo isso em apenas um jogo...Ainda esta semana ouvi um estrangeiro me dizer “os brasileiros têm o futebol como uma religião”, e é verdade. Vejam eu, por exemplo. Entendo lhufas e ainda menos de futebol, mas estive acompanhando relativamente a copa, assistindo os jogos e torcendo! E não só para o Brasil, mas, claro, para situações que favorecessem o nosso time. Agora estou aqui me sentindo constrangida e devastada.

Há quem diga que foi mandinga. Há quem chame de incompetência. Para outros foi a arrogância inerente do título exclusivo de penta. Fato é que, agora, o sonho do hexa foi adiado para 2018 e não adianta julgar ou criticar. E essa derrota nada tem a ver com a falta de educação ou de hospitais. Muito menos tem a ver com os gastos exorbitantes na construção dos estádios e reforma da infraestrutura urbana das cidades sede. Ou seja, a eliminação nada tem a ver com política! Não é hora de retornar o discurso de que não se faz copas e sim hospitais.

Tampouco é hora de detonar o desempenho da seleção que chegou à semifinal do campeonato. É hora de sermos mais solidários do que críticos. Ninguém quer perder, então, por que mudar o texto depois de um novo contexto? Se o Brasil chegasse ao hexa, o mau desempenho da equipe não seria questionado por nós, afinal, seríamos vencedores, ganhadores da sexta estrela, e no jogo o que importa é ganhar! Entretanto, como não foi o ocorrido, vem à tona uma série de observações, críticas e ofensas. E, de repente, o que estava sendo ótimo se transforma no péssimo, imperdoável e inaceitável.

É, o Brasil perdeu sete vezes: o jogo, a semifinal, a copa, a copa no Brasil, o artilheiro da copa, o hexacampeonato, a conquista do hexa em casa! Em contrapartida ganhou coisas muito mais importantes: melhoria na infraestrutura (ainda que com problemas), ressuscitou o turismo, ganhou a solidariedade da seleção alemã, ganhou no intercâmbio cultural, ganhou a alegria de ser a sede do torneiro de um esporte tão amado por todos. Mesmo assim, seguimos inconformados com o resultado. Seguimos inconsoláveis.

E por que sofremos tanto com a derrota de um time em um torneio quando vivemos num país com tantos problemas sociais? Quando nascemos somos ensinados a amar o futebol, mesmo que apenas em período de copa. Principalmente na copa! E ao longo dos anos vamos nos envolvendo com o clima de festa, euforia e felicidade, e isso faz com que, inconscientemente, assimilemos essa paixão pela seleção brasileira. Torcer para o Brasil no futebol é quase como “um membro na família”, e por isso, tudo que atinge a nossa seleção atinge tanto os brasileiros, muitas vezes mais do que catástrofes com “pessoas estranhas”.

Apesar da grande tristeza, declaro a minha solidariedade à seleção brasileira que, em campo, não sofreu menos do que nós. Em vez de explodir em críticas, exponho o meu apoio à equipe que, com certeza, tentou dar o seu melhor, mesmo com todas as falhas. E não tenho dúvidas de que a derrota histórica deixou algum aprendizado a cada um de nós. Para aqueles que dizem que o salário dos jogadores compensa o sentimento da perda, eu dispenso comentários.


Hoje não foi deflagrado feriado no Brasil, mas, em função do nosso luto, tenho certeza, foi feriado nacional nos corações dos torcedores brasileiros.